Borboletas

Eu acordei um dia numa manhã ensolarada de dezembro e me fiz várias perguntas, uma delas " Que cicatriz é essa?" De frente par...



Eu acordei um dia numa manhã ensolarada de dezembro e me fiz várias perguntas, uma delas " Que cicatriz é essa?" De frente para o espelho encostado na parede com moldura de madeira branca.
Não era sobre meu joelho ralado de uma brincadeira entre primos de pega pega, era interna. Começou pelo sentimento obscuro quando ainda criança, não sabia quem eu era ou o que seria daqui alguns anos, não me sentia como os outros meninos da minha pré escola, não tinha os mesmos gostos e a a solidão chegou, cada vez mais perto do meu eu interior e se tornou uma sombra, uma sombra do que eu era, do que eu sonhava em ser e não me deixava fazer as coisas que eu queria, me reprimia, me fazia de capacho de uma mente angustiada e que sofria todos os dias.


Os anos foram passando e mais uma cicatriz interna apareceu e a solidão cada vez mais forte e o breu chegou, a cama parecia parte do meu corpo, da carne que se aconchegou no pote esquecido, aquele tempero pronto estragado, o cheiro ruim, a depressão chegou depois da solidão e o breu...
Até que a largata virou borboleta e saiu do casulo, preste a levantar seu primeiro vôo, seu primeiro beijo e seu primeiro amor, todos os dias eram felizes, ela era capaz de voar cada vez mais alto, não tinha medo dos animais maiores, se sentia forte e confiante, bela como nunca. Isso durou quase um ano, todos os dias eram aconchegantes de forma plenamente
Amável.


Quando tudo acabou a borboleta esqueceu como voar, tinha medo dos animais até menores que ela, a insegurança voltou e com ela a solidão batendo na porta querendo entrar, cada dia uma batida mais forte até conseguir entrar, a borboleta num ciclo vicioso, de pensamentos e lembranças.
Esta manhã ela acordou e percebeu que ainda era bela e forte, que todos temos nossas fases, nossas angústias e cicatrizes, boas lembranças e que alguém sem saudade é alguém que nunca amou algo ou alguém, e quem nunca amou não sabe ver a vida como ela é, uma incógnita, nem ruim nem boa, nem aqui e nem lá, mas um meio termo onde um dia você está mais para um lado do que para outro, e que se você se esforçar um pouquinho mais que seja, terá sempre mais de uma pessoa ou algo especial na vida. E que tudo bem não estar sempre bem, mas que a vida continua, feita de recomeços, laços e intrelaços, que nem sempre precisa voar para um horizonte, para longe, as vezes algo simples e perto pode fazer seu coração sorrir, seja um abraço, um bom dia, uma nova leitura ou um silêncio, até quem sabe escrever um texto qualquer. O importante é se descobrir a cada amanhecer e anoitecer. Seja grato.

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